Pós pandemia leva a gestão do bem-estar nos escritórios a um novo patamar estratégico.

Grande parte da população passa mais tempo em seus ambientes de trabalho do que em suas casas. Mesmo após a pandemia, a prevalência do modelo de trabalho híbrido nas empresas mostra que o escritório deve continuar tendo seu papel de destaque, agora, ainda mais, como ponto de interação pessoal, contato com a marca e estímulo à inovação e à criatividade. É nesse contexto que a gestão do bem-estar nos escritórios ganha novo protagonismo na pauta empresarial.

Como explica Divya Hariramani Herrero em seu artigo publicado no GRESB, “a força de trabalho agora tem expectativas e requisitos fortes e inegociáveis ​​sobre seu local de trabalho, que precisa mantê-los seguros. Com os custos de pessoal, incluindo salários e benefícios, normalmente responsáveis ​​por cerca de 90% dos custos operacionais da empresa; a saúde, o bem-estar e, por sua vez, a produtividade de seus usuários se tornou rapidamente uma questão prioritária na agenda de todas as empresas”.

Além disso, grandes estudos de caso e pesquisas já evidenciaram os benefícios das estruturas de saúde e bem-estar nas empresas para a retenção e atração de talentos, bem como, na diminuição do absenteísmo. “Com energia e aluguel representando apenas os 10% restantes dos custos operacionais do negócio, edifícios que são apenas eficientes precisam ir além”, acrescenta a consultora sênior de design de sustentabilidade e bem-estar.

Para ajudar nesse processo, o World Green Building Council divulgou, em relatório publicado em seu site, o que não pode faltar na gestão do bem-estar nos escritórios.

Layout interno como fundamento do bem-estar nos escritórios

Um projeto de workplace bem elaborado tem relação direta com o bem-estar das pessoas no ambiente de trabalho. Mobília, iluminação, utilização de plantas, espaços seguros para interação e alimentação, decoração, tudo isso faz parte da concepção do espaço e deve ser levado em conta. Afinal, quem não gosta de um local bonito, limpo e acolhedor?

Qualidade interna do ar

Segundo o líder de HSE (sigla em inglês para a área de meio ambiente, saúde e segurança) da JLL na América Latina, Gerson Gonzalez, no artigoConfira três características de um escritório saudável”, “quando o nível de CO² está muito alto, as pessoas ficam cansadas mais rapidamente. Elas sentem fadiga, dor de cabeça, sonolência, e isso impacta a saúde e a produtividade”. Por isso, é necessário oxigenar o ar interno, com ar externo. “Sensores monitoram o fluxo e a qualidade do ar, informando ao sistema dados como o nível de CO², temperatura e umidade. Com isso, geram alertas quando as condições mudam ou se deterioram”, explica Gerson.

Medir o ar e outras providências de higienização e manutenção preventiva, seguindo as normas, para checar os níveis de formaldeído, poeira, fibra, fungos, bactérias e vírus, é de extrema importância, pois esses elementos são prejudiciais à saúde.

Conforto térmico

De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), uma zona de conforto térmico aceitável é entre 20°C e 23°C no inverno e de 23° a 26°C no verão. Mas, segundo o Workplace Wellness Study, conduzido pela empresa de pesquisa Future Workplace, a temperatura no local de trabalho parece nunca ser boa o suficiente. Um terço dos funcionários pesquisados disse que o ambiente está continuamente muito quente ou muito frio em seus escritórios. Apenas um em cada três entrevistados (33%) acha que a temperatura do escritório estava ajustada para fazer o seu melhor. Considerando que ambientes muito frios ou muito quentes nos fazem gastar mais energia, achar o equilíbrio, dentro das leis e normas, é um desafio que precisa ser superado.

Barulho

Ser produtivo em um escritório barulhento é praticamente impossível. Ainda segundo o Workplace Wellness Study, “a privacidade é uma distração para quase metade (47%) de todos os funcionários do escritório. Apenas um em cada cinco trabalhadores (22%) acha que a acústica de sua repartição é adequada.”

Luz natural e iluminação

A luz pode ser natural, artificial, direta, indireta, difusa e pontual, mas uma iluminação ruim pode gerar dores de cabeça, problemas na visão, fadiga, dificuldade de concentração e irritabilidade. Por isso, existem normas que estabelecem os padrões quantitativos e qualitativos a serem seguidos, em cada área de atuação. A norma brasileira NBR 8995-1 é a que especifica os requisitos de iluminação para áreas de trabalho.

Limpeza e higiene

A falta de limpeza nos escritórios pode causar diversos problemas, como a proliferação de doenças infecciosas e degenerativas; queda na qualidade de vida dos colaboradores; queda na motivação e sensação de cansaço e sensação de desânimo.

Nos pós-pandemia, transformações no setor de limpeza ocorreram para que as empresas pudessem oferecer locais ainda mais seguros aos seus funcionários. Uma das mudanças de maior destaque, segundo a gerente operacional do Grupo Paineiras, Maria Aparecida Shiraishi, foi na frequência da limpeza nos ambientes, mas as mudanças incluem também novos tipos de higienização.

Biofilia

O termo Biofilia significa “amor pela vida” (do grego bios, vida e philia, amor). A palavra foi popularizada por Edward Wilson, com a sugestão de que temos um vínculo instintivo com a natureza. Atualmente, já há uma crescente compreensão científica de design biofílico e o impacto positivo do espaço verde e da natureza em ambientes de trabalho.

O relatório Human Spaces no Impacto Global de Design Biofílico no Local de Trabalho, por exemplo, mostrou que ambientes com elementos naturais geram níveis até 15% mais altos de bem-estar, 6% a mais de produtividade e 15% a mais de criatividade do que ambientes sem esses elementos.

Espaços de estímulos à prática de exercícios

Existem diversas pesquisas sobre a ligação entre exercício físico e a produtividade no trabalho, sugerindo até um menor número de dias de licença médica. Bicicletário, parcerias com academias, ações que estimulem caminhadas dentro do ambiente de trabalho, entre outras ações, podem ajudar a disseminar a prática.

A pandemia provou a necessidade de uma evolução no local de trabalho, enquanto ferramentas de saúde e bem-estar permitem mudar o espaço atual, oferecendo novas experiências sensoriais que irão refletir como uma personificação da marca e cultura da empresa. Como conclui Divya em seu artigo, “isso se traduzirá diretamente em edifícios sendo valorizados por sua capacidade de melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas. Agora é a hora de parar de projetar escritórios, mas sim de projetar a experiência de escritório.”