Se antes hospitais eram os locais mais ligados ao assunto, hoje a sociedade como um todo discute a limpeza de escolas, de empresas, meios de transporte e até locais públicos, já que a preocupação cresce à medida que avançamos na flexibilização e reabertura.
Manter os ambientes biologicamente seguros depende da limpeza, e é preciso garantir que todas as superfícies, em especial as de alto contato, sejam limpas e desinfetadas com maior frequência e da forma correta.
Aqui entra a primeira polêmica. Muitas pessoas (e, às vezes, o próprio mercado) chamam esse processo de sanitização, o que é um erro. O termo correto é HIGIENIZAÇÃO, que corresponde ao processo combinado de limpeza (retirada de sujidades) seguida da desinfecção.
A desinfecção de um ambiente consiste na aplicação de um desinfetante, com o objetivo de eliminar das superfícies 99,999% dos germes, bactérias e vírus (como o da Covid), reduzindo-os a níveis não patogênicos, com um tempo médio de contato de dez minutos.
A sanitização, por sua vez, é mais apropriada à indústria alimentícia e prevê o uso de sanitizantes específicos, que eliminam níveis de componentes microbiológicos. Esse processo não se aplicaria ao dia a dia, pois obedece a regras diferentes da desinfecção.
Qual desinfetante usar?
Antes de tudo, a seleção do desinfetante está diretamente ligada aos equipamentos e métodos usados na limpeza, bem como às características das superfícies a serem desinfetadas. É fundamental também considerar que, sempre antes de desinfetar, é preciso fazer a remoção de sujidades e limpeza com detergente. “É preciso ainda se certificar de utilizar somente produtos regulamentados pela Anvisa”, lembra Filipe Lourenço, membro da Câmara de Prestadores de Serviços da Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional (Abralimp). “Por fim, é recomendado contar com um responsável técnico para a criação dos protocolos e acompanhamento dos serviços realizados”.
Conheça algumas opções de desinfetantes:
O álcool a 70% (etílico e isopropílico) é utilizado para desinfecção de equipamentos e superfícies e pode ser aplicado no mobiliário em geral por meio de fricção. Pode ser encontrado na forma de gel ou líquido. É destinado à desinfecção de objetos e superfícies potencialmente contaminados pelo vírus (pisos, paredes, mesas, camas etc.), mas tem como desvantagem ser inflamável, volátil, e pode danificar tubos de plástico, silicone, borracha e deteriorar das colas. Também é afetado por fatores ambientais: é inativado por material orgânico (por isso se recomenda a limpeza prévia).
O hipoclorito de sódio, embora seja um produto antigo, vem sendo utilizado por algumas empresas e prefeituras no combate ao coronavírus. Pode ser bactericida, virucida, fungicida, tuberculicida e esporicida, dependendo da concentração de uso. Apesar do baixo custo, a aplicação sobre superfícies metálicas pode levar à oxidação. É instável após diluição e pode ser desativado pela luz, pelo que se recomenda a utilização imediata após a diluição. Não deve ser misturado com outros produtos, pois reage violentamente com muitas substâncias químicas.
O peróxido de hidrogênio possui ação rápida e é pouco tóxico, mas tem maior custo. Não é afetado por fatores ambientais ou na presença de material orgânico e é seguro para o meio ambiente. Entretanto, a inalação aguda pode causar irritação no nariz, garganta e trato respiratório. Em altas concentrações também pode desencadear bronquite ou edema pulmonar. É contraindicado para uso em cobre, latão, zinco e alumínio.
O ácido peracético é efetivo na presença de matéria orgânica. É instável principalmente quando diluído e é corrosivo para metais (cobre, latão, bronze, ferro galvanizado). Sua atividade é reduzida pela modificação do pH. Causa irritação dos olhos e do trato respiratório. Pode ser combinado ao peróxido de hidrogênio.
A combinação de peróxido de hidrogênio e ácido peracético tem odor semelhante ao vinagre e é considerada uma alternativa ao hipoclorito de sódio quando é necessário usar um desinfetante esporicida. Vantagens: bactericida, virucida, fungicida, esporicida e micobactericida; possui ação rápida; baixa toxicidade; não é corrosivo; ativo na presença de matéria orgânica. Como desvantagem pode ser considerado o custo mais alto e o odor pungente.
Os quaternários de amônio são amplamente empregados nas indústrias de cosméticos, farmacêutica e domissanitária. Pode causar irritação de pele e das vias respiratórias e sensibilização dérmica, mas não é corrosivo. Os trabalhadores que se expõem constantemente aos produtos devem ser apropriadamente protegidos pelo potencial de hipersensibilidade. Tem a vantagem de não corroer os metais. Em geral, tem menos ação contra microbactérias, vírus envelopados e esporos. É inativado na presença de matéria orgânica, por sabões e tensoativos aniônicos. Possui baixo custo.
Existem ainda os desinfetantes orgânicos, à base de terpenos (compostos naturais), que são produtos 100% atóxicos, alguns já possuem processos avançados de certificação junto à Anvisa.
Vale lembrar que, embora possuam efeito residual, nenhum desses produtos consegue garantir efeito por uma quantidade específica de tempo, já que seu princípio ativo é consumido de acordo com a quantidade de carga microbiológica presente no ambiente. Logo, produtos com efeito residual que se estende por meses não existem.
Mecanização e Novas Tecnologias
“Os métodos manuais são a primeira escolha para desinfetar superfícies”, destaca Filipe. “É muito importante ratificar que um processo não substitui o outro mas, para combater patógenos aéreos e desinfetar grandes áreas que requerem rápida reentrada, a mecanização e a tecnologia são os complementos ideais”.
Um método mecânico muito comum neste momento de Covid é o que envolve a nebulização. Trata-se de um processo complementar à desinfecção manual que cria uma nuvem de gotículas extremamente pequenas do líquido desinfetante, que agem no ar e também se instalam em cima, em baixo, nos lados de objetos ou em áreas de difícil acesso. A nebulização ainda atinge uma gama maior de superfícies, incluindo têxteis, além de permitir o tratamento de grandes áreas em um curto espaço de tempo, o que ajuda a quebrar mais rapidamente a cadeia de infecção.
Os equipamentos mais utilizados para esse processo são os Pulverizadores, os Atomizadores e os Nebulizadores Elétricos a Frio (NAF). “O NAF é um equipamento desenvolvido para uso profissional e residencial, e pode ser usado em fábricas, transportes públicos, escolas, supermercados, shoppings, hotéis, academias e espaços públicos em geral”, explica Marcelo Lages, membro da Câmara de Fabricantes e Importadores de Máquinas. “Com dupla função, de atomização e nebulização, o equipamento cobre oito metros na vertical e onze na horizontal, com amplo espectro de vazão, entre 15 a 400 ml por minuto”.
Além da mecanização, as inovações nos serviços de limpeza também são impulsionadas pela tecnologia. Há softwares, ferramentas ligadas à Internet das Coisas (IoT), recursos com localização por GPS, equipamentos autônomos e co-bots (robôs que trabalham em parceria com seres humanos). Eles simplificam operações, aumentam a produtividade, permitem fazer o controle de tempo, acessar informações em tempo real e reduzir custos.
Entre as tendências mais recentes na tecnologia da limpeza, também estão os equipamentos autônomos de vaporização, utilizados na China, Europa e América do Norte para limpeza e desinfecção de áreas críticas; sistemas de desinfecção de ar com filtros de alta performance, utilizados em estabelecimentos de saúde de todo o mundo para garantir a qualidade do ar; softwares que permitem rastrear a geolocalização, a produtividade, a ociosidade e até mesmo o consumo de produtos por usuário; sistemas de automação para funcionamento de equipamentos à distância via wi-fi; bem como robôs que limpam janelas e azulejos, e sistemas de vácuo autônomos, já disponíveis no Brasil.
Esses são apenas alguns exemplos de inovações que estão moldando o futuro da Limpeza Profissional. Vale lembrar que, em muitos aspectos da higienização, a presença humana é indispensável. Mas a inovação e a tecnologia ocupam cada vez mais espaço, cumprindo com a tarefa de melhorar o desempenho e otimizar custos – além de reduzir impactos ambientais. “O mercado de Limpeza Profissional exerce um papel fundamental na biossegurança de todos os ambientes com os quais convivemos e deve buscar, independente do contexto de pandemia, a constante atualização dos processos, produtos e tecnologias aplicadas”, finalizou Filipe.
Fonte: Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional (ABRALIMP)
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