Sanitização virou um termo da moda. Com a ocorrência da pandemia, a palavra foi parar na imprensa, no dia-a-dia das empresas, de cidadãos comuns e até em protocolos de reabertura de prefeituras e governos de estado. E aqui começa a polêmica.

Ocorre que, na maioria das vezes, esse termo está sendo usado da forma errada – o que pode trazer riscos para quem está comprando o serviço.

O que muitos chamam de sanitização é, na verdade, HIGIENIZAÇÃO, ou seja, a limpeza seguida de desinfecção. “O problema em confundir a questão conceitual definida pela Anvisa é achar que desinfecção e sanitização são a mesma coisa, quando na verdade não são”, explica Thiago Lopes, membro da Câmara de Químicos da Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional (Abralimp). “Precisa ficar bem claro que a desinfecção reduz 100 vezes mais micro-organismos quando comparada à sanitização”.

A diferença é matemática e fica clara nos números. Para registrar um produto na Anvisa, é necessária a realização de testes de eficácia frente a alguns micro-organismos. Para a realização desses testes existem padrões mundiais (AOAC e CEN) e, no caso da desinfecção, é necessária a redução de 5 logaritmos, ou seja, a redução de 99,999% da contaminação existente. Já a sanitização requer apenas a redução de 3 logaritmos, ou seja, 99,9%.

“A princípio, para um leigo, pode parecer similar, mas a diferença é absurda”, diz Thiago. “Esse teste é realizado com 1 bilhão de unidades formadoras de colônias (grupos de micro-organismos) e quando reduzimos 99,9% (sanitização) desse número, o residual ainda é de 1 milhão de unidades formadoras de colônia”.

Além disso, oferecer um serviço apenas de sanitização requer que o ambiente esteja limpo, do contrário nenhum tipo de redução de micro-organismos acontecerá. E, mesmo que esteja limpo, voltará a ficar contaminado em um período mais curto de tempo, quando comparado à desinfecção, devido à multiplicação dos micro-organismos vivos.

Os impactos da confusão de termos na operação

Se o termo sanitização vem sendo usado da forma errada, seja de maneira intencional ou por falta de conhecimento técnico, certamente traz reflexos para a operação diária da limpeza.

“Para dar um exemplo, se alguém fala que vai executar a sanitização em uma sala cirúrgica, isso significa que irá aplicar um procedimento inadequado, que o ambiente permanecerá contaminado, e que irá gerar uma falsa sensação de segurança, o que é muito perigoso”, destaca Veridiana Silva Gomes, membro da Câmara de Serviços da Abralimp.

Há casos em que as próprias empresas incorrem no erro, vendendo seu serviço como sanitização que, por estar na moda, contribui para o marketing e as vendas. “Esses argumentos incoerentes utilizados para tentar persuadir ou convencer determinado público, no fim acabam prejudicando todo o setor de Limpeza e causam uma diminuição da credibilidade do próprio processo”, diz Veridiana.

Além disso, o cliente não tem a obrigação de possuir o conhecimento técnico para diferenciar conceitos. Por isso, cabe ao mercado zelar pela utilização das nomenclaturas corretas. “Muitas vezes nos deparamos com clientes que usam o termo sanitização de forma errada e apresentamos a ele o certo, com embasamento científico, referências de órgãos de classe, de associações ou mesmo da legislação vigente. Essa é a responsabilidade do especialista”, finaliza.

Utilizar nomes e termos específicos para determinados processos é uma forma de facilitar sua identificação. E quando o assunto envolve saúde, é preciso que essas nomenclaturas sejam aplicadas de forma ainda mais técnica. Agora que você já sabe a diferença entre sanitização (redução de 99,9% dos micro-organismos) e higienização (limpeza seguida de desinfecção, com redução de 99,999% da contaminação), que tal transmitir esse conhecimento?

Fonte: Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional (ABRALIMP)